Hoje pela manhã recebi uma mensagem de um amigo que dizia o seguinte: “100 anos de ‘Timão’! Quero que você escreva alguma coisa do ‘Timão’ no seu blog”.
É claro que isso pode ser interpretado como um pedido do tipo “Escreva alguma coisa sobre o Corinthians no seu blog”, ou pode ser uma espécie de ameaça, como “Quero que você escreva alguma coisa sobre o Corinthians...”. Devido a minha total antipatia para com o time, acho que a segunda opção se encaixa melhor.
Para ser muitíssimo honesto, nem mesmo sabia que era hoje (ou amanhã, sei lá) que o “Timão” estava completando seu centenário. Pouco me importa o futebol. Não tenho simpatia nenhuma pelo esporte. Minto. Costumo dizer – e com orgulho – que sou “Peixe”. Por quê? É o que meu pai sempre quis, e não queria que ele tivesse outras decepções comigo.
O que escrever sobre o Corinthians que ninguém saiba?
Posso acrescentar algumas informações pouco conhecidas, como todas as infelicidades ou mesmo a intensa e profunda raiva que o clube me proporciona. Às vezes acho que nasci para odiar o Corinthians. Nunca tive sequer um pingo de vontade de ser corinthiano. Definitivamente nunca. Tá aí uma coisa que nunca passou pela minha cabeça.
Ainda quando menino, quando me arriscava a jogar futebol, nunca gritei “Gooooooooooooooooooooooooool... doooooooooooo... Corinthians!”, quando, por alguma intervenção divina, conseguia chutar em direção ao gol e pontuar.
Definitivamente ser corinthiano não é comigo.
Acho que isso se dá pelas experiências que tive com o clube. Certa vez, quando tinha uns dez anos de idade, presenciei uma batida policial num bar próximo à minha casa. Nesse bar estavam comemorando o aniversário de um rapaz corinthiano. O policial apontou a arma e gritou “NINGUÉM SE MEXE SE NÃO EU METO CHUMBO”. Eu fiquei aterrorizado.
No fim das contas foi constatado que tudo – cerveja, refrigerantes, carne do churrasco etc – eram de origem duvidosa e que o tal rapaz pertencia à uma quadrilha. Sei que não se pode generalizar uma coisa dessas, mas parece que cresci com certa aversão ao Corinthians, pois a única imagem que me vinha à cabeça depois disso era a arma do policial e os enfeites que faziam alusão ao time.
Mas é claro que isso foi só um primeiro pequeno passo para a minha mitológica e complexa raiva pelo clube. Talvez um trauma de infância seja suficiente para gerar certa antipatia, mas as coisas não pararam por aí. Já presenciei muitas brigas entre torcidas organizadas na tevê aberta, e as que tiveram mais impacto, ao menos para mim, foram as que envolviam o Corinthians. Já vi pessoas e mais pessoas dizendo que é ruim quando o “Timão” ganha, pois os torcedores quebram tudo, mas é pior ainda quando perdem, pois quebram tudo e mais um pouco.
Quando falamos de esporte no Brasil temos a triste realidade de associarmos automaticamente e/ou unicamente ao futebol. Quando falamos de futebol geralmente pensamos em Corinthians. Tá aí meio que uma constante... Uma triste constante.
É fato, também, que o clube muitas vezes é visto como portador de alto índice de marginalidade. Isso é algo que se instalou na cabeça das pessoas e que não sai tão fácil. Mas vale atentar que essa tal marginalidade não vem do clube em si, mas sim do comportamento que muitos torcedores têm. Vestir a camisa não significa assumir uma identidade marginalizada. Na verdade não tem nada a ver com isso.
É claro que tudo que afirmo – talvez de maneira duvidosa – é embasado nas experiências que tive.
Certa vez um colega, que é torcedor do Corinthians, disse que os corinthianos – mas corinthianos de verdade – não poderiam ter certas pretensões, como frequentar a Academia, pois teriam de fazer escolhas cruciais: assistir ao jogo do “Timão” ou estudar. Confesso que achei isso extremamente estúpido de se ouvir. Talvez por isso se firme mais ainda a ideia de que corinthiano não seja portador de conhecimento.
Outra coisa que me deixa abismado é a falta de diálogo que muitos corinthianos têm. Às vezes não há possibilidade de estabelecer comunicação com alguns torcedores do clube, pois estes simplesmente se fecham numa espécie de cubículo onde só eles têm razão. Logo se anula qualquer possibilidade de debate. Acho que pior do que corinthiano só mesmo alguns crentes (evangélicos). E pior ainda um crente corinthiano, pois ambos já têm suas ideias prontas e imutáveis.
Bem, com isso não pretendo ser alvo de xingamentos, chacotas e afins... Como disse anteriormente, nem mesmo sabia que era hoje (ou manhã, sei lá) que o “Timão” estava aniversariando. Só disse aquilo que penso, e até onde sei não há mais censura no Brasil.
É isso.
Gilmar Ribeiro (piu!)
@gilmarrpiu
31/08/2010, às 15h22min.
*Não revisado.