É claro que não chego nem aos pés de grandes cronistas como Fernando Sabino, Rubem Alves, Rubem Braga etc., mas tento, de todas as maneiras possíveis, escrever alguma coisa que fique no mínimo decente.
Também é claro que a definição de decência é muito subjetiva, pois cada um, de acordo com o seu background, estabelece o que significa decência e, ainda, qual o nível de decência que cada coisa e/ou pessoa tem.
Também é possível estabelecer qual o nível de falta de decência de certas coisas e/ou pessoas. Minha tia Mirtez, por exemplo, é alguém que não tem sequer uma migalha de decência – neste caso decência social. E não digo isso só porque a odeio, digo porque é a mais pura verdade.
E qual o nível de decência de um pseudoescritor que fala mal da tia em um de seus textos? Acredito que pouco, ou mesmo nenhum.
Bem, não façamos das tripas coração... Ao menos não agora.
Estávamos falando de decência crônica – não crônica de doença crônica, e sim crônica de cronista, aquele que escreve crônicas. Mas o que vem a ser uma crônica? Em poucas palavras responde o Aurélio: “crônica sf. 1. Narração histórica, por ordem cronológica. 2. Pequeno conto, de enredo indeterminado. 3. Texto jornalístico redigido de forma livre e pessoal. 4. Seção de revistas ou de jornal. 5. Conjunto de notícias sobre alguém ou algum assunto.”.
Já citado o nome de alguns ótimos cronistas brasileiros e estabelecido o que vem a ser uma crônica – no sentido literário, não medicinal –, vale atentar para uma grande realidade: Você – no caso eu –, nunca será tão bom quanto esses caras: SABINO; ALVES; BRAGA.
Sim, disso eu já sabia.
Sempre tive grande admiração pelo Sabino, que foi o primeiro grande cronista que li, ainda quando tinha meus 12 anos; Rubem Alves é simplesmente belíssimo de se ler; Rubem Braga, por sua vez, é considerado por muitos o melhor cronista brasileiro desde de Machado de Assis.
E quem sou eu perto desses caras? Isso dói, mas tenho de confessar: eu não passo de um “João Gostoso” da literatura – caso não conheça, ler Poema Tirado de uma Notícia de Jornal, de Manuel Bandeira.
Deixemos o pessimismo de lado e vamos à realidade.
Recentemente me defini da seguinte maneira: “Três em um: escritor frustrado, humorista sem graça, amigo ausente e péssimo com cálculos matemáticos”.
Considero-me um escritor frustrado, pois é assim que todos os maus escritores se nomeiam. Considero-me um humorista sem graça porque nem sempre as piadas que faço têm sucesso; também porque uma amiga (lê-se ‘amiga da onça’), disse que precisaria rever todo o meu repertório de piadas e, como se não bastasse, me chamou de sem graça. Considero-me um amigo ausente e acredito que o motivo é auto-explicativo, não é mesmo? Já o fato de me considerar péssimo com cálculos matemáticos foi só mais uma tentativa frustrada de fazer rir. Mas mesmo assim sou péssimo com cálculos.
Tá, onde estávamos? Ah, primeiro citei o nome de alguns grandes cronistas brasileiros, como Fernando Sabino e Rubem Braga, por exemplo; depois fiz uma rápida revisão no quesito decência; falei algumas características marcantes da minha pessoa – odeio quem usa essa expressão –; e agora revelo o verdadeiro intuito desse texto:
Quando falamos de decência devemos, primeiramente, assegurar-nos de que meu nome não será citado, pois, ao contrário do que muitos pensam, não tenho nenhum pouco de decência – aqui no caso acadêmico-literário. Por isso que escrevi esse texto, para me despedir de vocês, queridos colegas de classe e eventuais (lê-se esporádicos) leitores.
Como não sou praticante da decência literária, tampouco a social, escrevi essa crônica como maneira de me aposentar da carreira literária. Sim, estou novo demais para isso, mas, como diria minha avó, "é de novo que se torce o pepino". Nunca entendi bem o que isso quer dizer, mas tá valendo.
Devido a minha falta de decência social (lê-se pilantragem), não pude comparecer para me despedir cara a cara de todas as pessoas que estimo, respeito e julgo de boa índole. Há também, é claro, aqueles que não suporto. Ia me despedir desses também: com um belo sorriso amarelo no rosto, me colocaria à frente dos meus rivais e diria um sincero “Adiós, amigos”.
Gilmar Ribeiro (piu!)
15/09/2010, às 3h44min.
* Não revisado.
FONTE
Mini-Aurélio
http://www.releituras.com/rubembraga_bio.asp
Porque me doeu tanto ler essa crônica?
ResponderExcluirTalvez pela... bem, tenho medo até de dizer o que senti e isso se tornar verdade.
Espero que seja apenas mais uma crônica.
Não a última, nem despedida literária e muito menos despedida dos colegas de classe, como você citou.
Estou profundamente intrigada com este texto e espero poder entendê-lo conversando com você, pessoalmente!
João Gostoso foi um personagem de minha infância. Lembro-me de decorar esse texto para um trabalho no ensino fundamental.
Sempre achei impressionate a história, mesmo em poucas palavras.
"JOÃO GOSTOSO era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado."
Um típico trabalhador brasileiro, que se diverte e morre. Foi-se, sem se despedir de ninguém.
O poema sempre teve esse ar de mistério para mim: teria João Gostoso se matado, ou apenas decidido dar um mergulho mas, devido à bebedeira, se afogado acidentalmente?
Considerando a primeira hipótese, seria essa uma 'pista' do autor dessa "Minha última crônica" dizer que está suicidando sua profissão e sua vida universitária?
O desespero da dúvida me exalta, negativamente, o coração.
Me sufoca pensar tal coisa.
Se este for o fim...
NÃO! Me recuso a continuar!
Corrigindo:
ResponderExcluir"...se suicidando, ao matar sua profissão e sua vida universitária?"
Não acreditei quando li o texto e me deparei com os recados de desistência...
ResponderExcluircomo assim?
alguém me faça o favor de explicar sobre o que exatamente isso quer dizer?
preciso urgentemente de uma luz...
Olá Piu!
ResponderExcluirNão sei se lerá este comentário, mas de qualquer forma, eu desejo fazê-lo e deixá-lo registrado aqui.
Na vida todos nós temos problemas. E quando eles começam a atrapalhar tudo que fazemos, acho que tem mesmo é que parar por um tempo, respirar, ganhar fôlego e voltar à ativa.
Mas, cuidado com as tempestades. Elas não só embaralham a nossa vida, como podem embaralhar a visão que nós temos sobre nós mesmos, inclinando principalmente a pensar o pior.
Vc não é um escritor frustrado. Seu lado escritor é muito maior do que qualquer frustração.
Pense nisso, e siga em frente. Caso resolva voltar aqui e para lá, saiba que nós todos, amigos e pessoas que te admiram (e nem vem pensar que "nao merece"), estaremos esperando para que ocupe o lugar que é seu por direito: o sucesso.
Um abraço!!!
Danilo Moreira