quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tradição por inovação


Após 119 anos de jornalismo no Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil resolveu fechar suas portas para a versão impressa.


- Bom dia. O senhor pode ‘me ver’ o JB?
- Jornal do Brasil? Ih, meu jovem. Você está por fora. Não acessa o ‘ciberespaço’? O JB, à partir de hoje, não existe mais em bancas que nem essa. Agora é só naquela banca quadrada e profunda que chamamos de Internet.
- Não existe mais o JB impresso?
- Não, rapaz. Só pela internet. E se continuar assim, ‘tô’ vendo que em bancas de jornal venderemos apenas balinhas e ‘cards’ pra essas crianças.


       O político, advogado e jornalista Rodolfo Epifânio de Sousa Dantas foi quem fundou o Jornal do Brasil, em 1891, no Rio de Janeiro, defendendo o regime da Monarquia que havia acabado de ser deposto. O jornal possuía colaboração de grandes nomes da época, como Ulisses Viana, Joaquim Nabuco, José Veríssimo e o Barão do Rio Branco. Seu editor-chefe era o futuro substituto de Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras, o escritor, político e diplomata Rui Barbosa.
       O até então Presidente da República Floriano Peixoto, em 1893, manda fechar o jornal e faz ameaça de morte ao editor Rui Barbosa, que se exila. Permanece fechado por um 1 ano e 45 dias (410 dias), voltando a abrir as portas em 15 de novembro de 1894, sob a direção da família Mendes de Almeida, com nova proposta editorial, defendendo a República. Apoiou o Golpe Militar em 1964, assim como a maioria da imprensa da época, e teve seu auge entre os anos de 1950 e 1980.
       Em 2001, sob o comando de Nelson Tanure, seu sucesso despencou para apenas 70 mil exemplares vendidos em dias da semana e 105 mil aos domingos. Inovou o design, no ano de 2006, passando a ser impresso em formato europeu, sendo um pouco maior que um tablóide e um pouco menor que o formato convencional. Seu percentual de vendas aumentou, em 2007, para 100 mil exemplares vendidos em dias da semana. Outra inovação ocorreu em 2008, quando teve todo o seu acervo histórico digitalizado e disponível na internet, em parceria com o Google. Em março desse ano a venda chegava a apenas 20.941 mil exemplares. Milhares de jornalistas foram demitidos, devido à sua crise econômica que teve início nos anos 1990. Hoje a redação conta com apenas 60 integrantes. Perdendo seu prestígio, foi identificado recentemente, pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação), cerca de apenas 17 mil exemplares vendidos. Por conta disso foi descredenciado pelo Instituto.
       Em julho deste ano foi divulgada a notícia que o JB perderia sua edição impressa, passando a existir apenas pela internet, disponível para leitores mediante assinatura mensal de R$9,90. Tanure afirmou seguir a nova tendência do jornalismo brasileiro, chamando atenção ao fato do compromisso social, já que menos árvores seriam derrubadas para uma edição dominical, por exemplo, que antes consumia cerca de 200 árvores. Para evitar o clima de despedida, sua última edição impressa, em 31 de agosto de 2010, não teve nada de especial ou comemorativo, apenas uma pequena referência por ser, a partir de 1º de setembro, o primeiro jornal 100% digital do Brasil. Seu novo slogan é:

“Qualidade.
Praticidade.
Alinhamento com o futuro.
Respeito à ecologia.

2 comentários:

  1. Ótima matéria.
    Às vezes penso que bom seria se eu soubesse fazer alguma coisa assim. [inveja do bem].
    Mas como disse a @silviasotero “Se essa minha amiga Bruna não existisse teria de ser inventada”. Claro que isso ela disse para mim [rs], mas também serve, e MUITO, para você, Bru.
    Cê sabe que A DO RO tudo que cê escreve, né?

    **Bjos**

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  2. Parabéns pela matéria Bru.
    É uma pena existirem jornais tão bom e tradicionais que abdicam de sua especificidade somente para estar por dentro dos avanços tecnológicos.
    Acho impostante eles renovarem, mas não deveriam ter acabado com o jornal impresso!

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