A prostituição no Brasil envolve aproximadamente 500 mil garotas, de acordo com estudos realizados por ONGs responsáveis por denúncias generalizadas. A Polícia Rodoviária Federal, em balanço realizado em 2006, mapeou cerca de 1222 pontos, apenas de prostituição infantil. Porém, a idade média da prostituta brasileira é entre 18 e 30 anos. Seus clientes têm idade entre 30 e 40 anos, no geral.
A Rua Augusta, em São Paulo, é conhecida pelos bares e baladas, frequentados por pessoas de todas as idades, em especial jovens com estilos considerados "alternativos". Além disso, a Rua Augusta é conhecida pelos diversos pontos de prostituição, com fácil localização por toda a sua extensão. Andando pela rua em qualquer dia da semana, depois das 21 horas, é comum ser abordado por homens de terno preto, muito bem aparentados, que oferecem os "serviços" da casa para as quais trabalham.
O perfil das prostitutas da Rua Augusta é diferente do perfil das protitutas que fazem ponto em esquinas a céu aberto. A maioria das garotas de programa dali são jovens e muito bonitas, por muitas vezes estudantes universitárias que levam a prostituição como modo de sobrevivência mais fácil, com resultados monetários mais rápidos.
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Em um domingo, caminhando pela Rua Augusta com um amigo, fui abordado por um destes homens que ficam tentando atrair os clientes.
- Vem pra cá! - disse ele, me pegando pelo ombro - Aqui tem bucetadas na cara, sem dó nem piedade!
Chocado por tamanha sinceridade, e achando aquilo bastante engraçado (a situação), me desvencilhei e continuei andando. Meu amigo e eu fomos até um certo bar, onde tocam jazz, tomar uma cerveja. O bar estando fechado, resolvemos saciar nossa curiosidade, entrando em uma das casas, apenas para ver o ambiente.
A luz fraca e a música embriagante emprestavam ao local um ar lascivo, quase letárgico, como em um filme cult. No ar, cheiro de cigarros e perfume barato. Um balcão se estendia à direita, onde um homem com idade aparente de 50 anos preparava alguns drinques. O local estava quase vazio, sendo preenchido apenas por dois homens e duas garotas, uma delas dançando em uma barra de ferro, instalada em um canto do bar.
Como não estávamos ali como clientes, meu amigo e eu pedimos duas cervejas e nos sentamos em uma das mesas, apenas observando a moça que dançava. Eu logo bolei um jeito de saciar minha curiosidade quanto à vida destas garotas, me passando por jornalista (com os diplomas cassados, agora todos o somos).Uma das garotas se aproximou de nossa mesa, assim que seu cliente foi embora.
- Oi - disse ela, com voz sedutora.
- Oi - respondi, tentando parecer displicente.
A garota se sentou ao meu lado, perto demais para me deixar desconcertado. Procurei manter-me impassível. Era a minha chance de saber tudo o que queria. A postura da garota era a de uma fêmea no cio, mas eu sabia que tudo não passava de uma profissional encenação. Para tirar-lhe de uma vez as chances de me atacar, eu disse:
- Sou jornalista e estou aqui para entrevistar algumas meninas, pois estou fazendo uma matéria sobre os vários lados da prostituição, e me seria muito interessante saber como é a vida das garotas que trabalham aqui, o seu dia-a-dia.
Imediatamente a postura da moça mudou: os ombros se descontraíram e todo o ar luxurioso se esvaiu. Agora ela parecia apenas uma mulher cansada, mas despreocupada.
- Você está gravando ou filmando algo?
- Não - respondi prontamente - Apenas vou fazer algumas anotações posteriormente. Por enquanto só temos que conversar. Aliás, não quero atrapalhar seu trabalho, por isso, se quiser, pode ir fazer o que tem que fazer, e depois conversamos.
- Não - ela retrucou - Tudo bem. Não tem nenhum cliente mesmo. Você pode me dar um cigarro?
Enquanto tirava o cigarro do maço e acendia para a garota, percebi que uma outra moça conversava com meu amigo. Resolvi não interromper minha "entrevista", agora que minha entrevistada parecia mais relaxada.
- Como é o esquema por aqui?
- Bem - ela obviamente havia entendido minha pergunta, pois foi direto ao assunto - Nós cobramos 100 reais, no geral. Oitenta do programa e vinte do quarto. Mas podemos cobrar mais caro, se quisermos.
- Sim, é claro. E o que você faz? Digo, além de trabalhar aqui?
- Bom, eu estudo, namoro, tenho uma vida normal. Isso aqui é só o meu trabalho.
Prestei mais atenção à moça. Realmente, o perfil era o de uma universitária como qualquer outra. Era uma garota bonita, dessas que, ao cruzarmos na rua, temos o impulso quase instintivo de olhar, chamar a atenção. Uma garota como qualquer outra garota bonita e inteligente, que tanto eu quanto meu amigo namoraríamos sem nunca imaginar que era, na verdade, uma prostituta. Esse pensamento me preocupou um pouco. Resolvi fingir que não, e continuar a entrevista.
- E o quê te trouxe a trabalhar com isso?
- O jornal - ela disse, sorrindo, os belos dentes muito bem enfileirados e brancos - Ví um anúncio e resolvi me candidatar.
- Sua família sabe disso?
- Não - percebi uma leve contração em seu cenho - Estou morando em São Paulo para estudar, e minha família não imagina, quanto menos o meu namorado. Você não pode me pagar uma bebida?
- Não - respondi - estou apenas trabalhando.
- Certo. É que ganhamos comissão quando os clientes nos pagam bebidas, além de ser quase uma obrigação fazermos com que paguem.
- Entendo. E como são os clientes? Digo, para eles vocês são realizações de fantasias, ou satisfação das vontades. Mas e para vocês? Como vocês os vêem?
- Depende - ela se inclinou, pensando - Na maioria das vezes não quero nem saber o nome. Faço meu trabalho, seduzo, vendo meu peixe, se é que me entende. Mas tem vezes que o cara é legal, então até rola de pedir pra ele voltar e me escolher novamente.
- E quando o cara não é legal?
- Bem, ou eu não aceito o programa, ou cobro bem caro, para que ele não aceite o programa. Mas às vezes não tem como escapar, e temos que trabalhar do mesmo jeito, sendo o cara legal ou não.- E vocês conseguem tirar um bom lucro?
- Sim, isso sem dúvida. Não faço isso porque gosto. Faço pelo dinheiro. Tem noite que chego a fazer quatorze programas, cada um a cem reais, fora o quarto. Faça as contas, sou ruim em matemática.
- Mil e quatrocentos reais - eu disse, impressionado - É mais do que ganho em um mês.
- Pois é. Isso em uma noite. Mas no geral são cinco ou seis programas por noite.
- E você trabalha todos os dias?
- Eu não! Senão não aguentaria, já estaria acabada. Tenho vinte e quatro anos, já trabalho há três, e ainda pareço ter dezoito.
- Realmente...
- Então. Se eu trabalhasse todas as noites, não estaria tão bonita. Trabalho três ou quatro noites por semana, no máximo.
- E o seu namorado? O quê você faria se o visse entrando aqui?
- Ele não vai a estes lugares. Mas acho que levaria numa boa. É meu trabalho, e se ele não aceita, não posso fazer nada. Na verdade, um ex-namorado certa vez descobriu, e ficou bastante chateado.
Percebi que meu amigo estava incomodado com a prostituta lhe assediando ao meu lado, e resolvi finalizar o assunto.
- Muito obrigado. Só peço que não conte aos seguranças que sou jornalista, ou posso me encrencar.
- Tudo bem. Foi legal falar com você. É bom conversar com pessoas que não nos enxergam como um pedaço de carne. Volte qualquer dia desses, como cliente.
Sorri com a brincadeira e, chamando meu amigo, me levantei e saí.
Ganhamos dos seguranças um bilhete para entrar como clientes VIP em outra casa do mesmo proprietário. Agora estávamos mais animados com nossa audácia, por isso fomos.
A outra casa era maior e mais povoada. Várias garotas andavam pelo lugar, semi-nuas e outras dançavam em um palco com uma barra igual à da casa anterior. Muitas delas eram lindas e jovens, outras não. Novamente nos sentamos, tomando cerveja. Duas garotas se aproximaram.
- Vamos fazer amor? - disse sensualmente uma delas. Meu amigo se engasgou.
- Não, mas pode se sentar - eu disse. Ela se sentou bem junto a mim, a mão alisando minha perna perigosamente. Me controlei com três profundas respirações.
Me apresentei como jornalista novamente, e fiz as mesmas perguntas. Ela também pareceu mais tranquila e deixou de lado aquele ar "profissional", ficando bem mais à vontade. Percebi que, desta vez, meu amigo estava tranquilo. Conseguia conversar normalmente, assim como eu.
Quando falei sobre família e namorado, a garota tomou uma atitude diferente.
- Minha família nem imagina, é claro - ela disse, bebericando uma Coca Cola - Mas meu namorado sabe. Ele encara numa boa.
- Como assim? Ele vê apenas como trabalho?
- Você vê isso como trabalho? - ela me questionou. Sem esperar minha resposta, continuou - Isso não é trabalho. Trabalho é no McDonalds, ou o que você faz. Isso é uma forma de ganhar dinheiro, me fazendo de objeto. Eu dou, e eles pagam. Os clientes não querem saber se eu tenho que pagar aluguel, se eu vou chegar atrasada, se eu vou ficar fazendo hora extra. Não é trabalho.
- Como você vê isso então?
- Dinheiro fácil e rápido. Sujo, mas fácil e rápido. Sou bonita, sou gostosa, e eles procuram exatamente por isso. Tenho que pagar minha faculdade, meu aluguel, estudar para as provas e fazer os trabalhos que os professores pedem. Se eu trabalhasse em um emprego como qualquer outro, não teria tempo pra tudo. Além disso, ajudo minha mãe. Ela acha que estou em um call center qualquer, coitada. Mas eu não me arrependo não.
- E seu namorado não tem ciúmes?
- Mais ou menos. Ele sabe o que eu faço, mas não preciso entrar em detalhes. Ele chega, fala como foi o dia dele e eu falo como foi o meu. Digo apenas: "foi bom, tive tantos clientes" ou "foi ruim, muito parado". O que importa é a grana.
Refleti sobre aquilo, achando dificílimo de aceitar.
- E você conversa com suas amigas aqui? - perguntei, resolvendo mudar o rumo da conversa.
- Só tenho uma amiga aqui, a grunge.
Sorri com a menção da palavra, entendendo que aquelas garotas eram garotas como qualquer outra, com preferências e estilos definidos por suas personalidades.
- Ah, ela é grunge?
- Sim, ela tocava contra-baixo em uma banda.
A garota que conversava com meu amigo se virou, me cumprimentando. Meu amigo também é baixista, o que rendeu uma conversa entre os dois. A garota com quem eu conversava continuou:
- A gente conversa às vezes, quando acontece alguma coisa engraçada. Teve uma vez que o cara chegou aqui, todo fortão, pagando uma de gostosão. Sempre que entra um cara bombadinho aqui a gente já ri. Geralmente eles têm o pau pequeno, mas se acham.
Eu ri com a revelação. Ela continuou.
- Daí esse cara já veio direto em mim. "Quero ir com duas", ele disse. Chamei minha amiga e subimos para o quarto. O cara não me decepcionou. Realmente tinha o peru minúsculo. Como o tempo máximo do nosso programa é de trinta minutos, resolvi sacanear. Disse a ele que só transaria de pé, pois só assim gozava. Ele, se achando o rei da pica, aceitou. Fiquei em pé, de costas pra ele, e ele colocou o pau no meio das minhas pernas. Não houve penetração, ele apenas gozou nas minhas coxas, que eu mantive apertadas. E ainda veio me perguntar: "Gozou quantas vezes, gata?" Eu ri demais. Ele nem aguentou ir com minha amiga. Trouxa...
Me senti um pouco desconfortável ao ver uma garota como aquela, uma garota que eu facilmente me envolveria em circunstâncias diferentes, se não soubesse o que ela fazia, falando daquele jeito. Mas a história lhe era engraçada, por isso resolvi sorrir para não perder a "entrevista". Ela continuou, consultando a amiga de vez em quando, buscando aprovação:
- É, mas quando vem um do pau grosso aqui a gente passa mal, não é? Teve uma vez que eu fui embora que nem conseguia andar! Eu sentei no cara e minhas costas estalaram, meu quadril abriu, parecia que eu estava parindo!
Eu tive que pôr a mão na frente da boca para não espirrar cerveja para todos os lados, devido à crise de risos que me acometeu.
- Pois é, aqui é assim. Eu transo, transo, transo a noite inteira, daí chego em casa e faço amor com meu namorado. Lá eu me entrego de verdade, e ele nem é tão bom de cama assim. Mas com ele é amor. Aqui é só sexo, sem nenhum envolvimento ou diversão de minha parte. Tem vezes que entra um cara aqui, e eu acho ele legal, faço amizade. Quando isso acontece, eu nem subo com ele, mesmo que ele queira. Por que aí sim eu estaria traindo meu namorado. Haveria envolvimento.
- E se alguém que conhece o seu namorado entrar aqui? - eu perguntei.
- Já aconteceu. Dois amigos dele entraram aqui, me viram, ficaram chocados, mas ainda assim queriam que eu fizesse o programa com eles. Eu neguei, é claro. Quando cheguei em casa contei tudo para o meu namorado. Dias depois, os dois "amigos" foram falar com ele. Contaram que haviam me visto numa casa de prostituição. Ele disse "eu sei, ela me contou". Os dois ficaram loucos. Meu namorado, com toda a classe que possui, disse: "E vocês, da próxima vez, saiam com ela. Ela vai cobrar bem caro, e depois nós dois vamos torrar o dinheiro que idiotas como vocês pagam pra ter o que eu tenho de graça."
Me despedi da garota e meu amigo e eu saímos dali com uma lição em mente. As pessoas são como são, não importa o que façam.
Gostei muito de conversar com aquelas meninas, por mais que uma pena me acometa, em pensar que garotas tão lindas e inteligentes trabalham com aquilo. Me deu um certo medo, pois como eu já disse, se as visse na rua, jamais imaginaria que eram prostitutas. A sensação que tive é que toda aquela tranquilidade que elas passavam era falsa, assim como a sensualidade ensaiada para ganhar dinheiro. Para mim, são garotas tristes, que se viciaram na maneira mais fácil que encontraram de ganhar dinheiro, ainda que muitas delas nem precisassem tanto de dinheiro, pois vinham de famílias abastadas.
No fim, tudo o que descobri é que a gente nunca sabe quem são as pessoas de verdade. Antes eu tinha uma visão sobre as prostitutas, e agora eu tenho outra. Todos os estereótipos foram deixados de lado, inclusive os de "boa menina". Espero que a prostituição diminua, que as garotas encontrem jeitos diferentes de ganhar dinheiro, que os homens encontrem jeitos mais honestos de satisfazerem suas vontades sexuais.